Em
1990 , passei no vestibular, para a
Universidade do Estado da Bahia - UNEB , curso de pedagogia ,tão e
somente para esta universidade . Por ser próximo ao bairro
,Engomadeira, onde eu morava e por ter aulas em horários
determinados. Desta forma, não precisaria gastar tempo nem
dinheiro com transporte para locomoção de um campus a outro, como
acontece com alunos/as da UFBA .
Nesta época morava na
rua que na verdade é uma avenida. Avenida Bom Jardim, quando
falei aos vizinhos , todos ficaram felizes, muitos nem sabiam o
que era uma universidade. Os mais velhos perguntavam se era emprego ,
se eu ia ganhar dinheiro. Os mais novos que estudavam e estavam
informados, diziam: a primeira moradora da rua a passar na
universidade . As minhas amigas do bairro diziam: você é a
primeira moradora do bairro engomadeira a passar no vestibular da
UNEB ( do ciclo de amigos/as e conhecidos/as).
Minha
expectativa era grande, pois não sabia muito bem o que iria
acontecer dali em diante. Na verdade , eu queria continuar estudando
e sabia que o caminho era a universidade .Isto, iria ampliar os
meus horizontes , mudaria a minha história, da minha família
,pois fui a primeira filha a fazer uma universidade. E também, a
história do bairro, uma vez que incomodava-me muito ouvi dizer que
Engomadeira , só engoma. Eu sentia que Engomadeira era muito mais.
Naquela
época, a universidade era distante dos bairros onde ela estava e
está instalada, embora ela tivesse alguns projetos para atrair a
comunidade tipo, aulas de ginástica ,mas, não existia um projeto
para atrair estes moradores, estudantes , jovens para suas salas.
Projeto que possibilitasse o ingresso como alunos universitário .
Na
universidade, no curso de educação no turno matutino eu era a única
aluna que morava na Engomadeira. Nunca , senti-me discriminada por
isso, quando algum colega questionava sobre o lugar, como era o
bairro, se era violento. Eu afirmava, é um bairro popular com
trabalhadores/as , estudantes e que tem seus problemas como qualquer
bairro popular deste país. E que nunca tive nenhum problema de
violência , inclusive que durante o ensino médio chegava do
colégio, meia- noite .E às vezes, não tinha ônibus , andava da
entrada do bairro até o fim de linha . Na verdade, sabia que eu
privilegiada, pois mesmo tendo estudado em escola pública, fiz o
vestibular, concorri com quarenta pessoas a uma vaga , passei e
ainda morava próximo a universidade . Em fim, subir um degrau no
mundo do conhecimento, alcancei um patamar que ainda hoje é
restrito a poucos, pouquíssimos.
Andreia Rocha Gomes